A seca que castiga as regiões produtoras de grãos nos EUA já se traduz em preços mais elevados no Brasil. No atacado, os principais grãos — soja, milho e trigo — ficaram até 33% mais caros desde maio (às vésperas do início da estiagem) no mercado brasileiro. O Brasil é grande produtor de grãos, mas como essas commodities são cotadas no mercado internacional, a quebra de safra nos EUA afeta diretamente os preços praticados aqui.
— No caso do milho, a expansão no atacado atinge 29%. E a alta do trigo está em 12%. Mas, com os estoques baixos, esse avanço será maior. Os preços elevados devem permanecer ainda por 12 a 15 meses, dependendo do grão e das próximas safras. Se não fosse a crise atual, que segura a demanda mundial, os preços iam disparar — previu Lucílio Alves, analista do Cepea. — Não há como o consumidor não pagar mais por frango ou suínos. Além da seca, a greve dos fiscais agropecuários foi o detalhe do terremoto.
Frangos e suínos mais caros
De acordo com Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), o preço do quilo do frango vivo começou a subir há duas semanas. No período, o valor aumentou de R$ 2,10 para R$ 2,30, quase 10% mais. Impacto direto da seca nos Estados Unidos, que causou perda na safra de milho de 100 milhões de toneladas, número que representa toda a safra combinada de Brasil e Argentina.
— O milho hoje é um dos principais custos na cadeia do frango. Muitos pequenos e médios produtores estão sentindo o efeito e começam a reduzir a sua produção.
Pressão pode adiar reajuste da gasolina
As altas já aparecem na inflação medida pelo IGP-M, da Fundação Getulio Vargas (FGV), que investiga os preços no atacado. Mas, para Salomão Quadros, da FGV, as altas captadas na primeira prévia do IGP-M de agosto (de 18,05% no milho, de 9,93% na soja, de 3,99% no trigo e de 4,69% na ração animal) não devem aparecer com a mesma intensidade no varejo:
— Certamente, menos da metade vai chegar ao consumidor. E essa conta pode ainda surgir em etapas nos supermercados, aos poucos.
José de Sousa, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio, concorda. Ele não projeta altas superiores a 5% no varejo, porque as vendas estão mornas nos supermercados.
— O melhor termômetro dos preços é o comportamento do consumidor. É isso que dita se os preços sobem ou não.
Para a inflação, a seca dos Estados Unidospode contribuir para uma taxa de 0,50% a 0,55% no terceiro trimestre — acima dos 0,43% do IPCA de julho, prevê Fábio Silveira, da RC Consultores. Porém, continua ele, não é nada que comprometa o teto da meta da inflação (de 6,5% para este ano).
— A seca trouxe patamares de preços internacionais surreais. Além disso, ainda há uma forte especulação junto com uma grande expectativa para as safras da América do Sul — afirma Silveira, acrescentando que, diante da estiagem, que vai pressionar a inflação de alimentos, é possível que o governo deixe para autorizar um reajuste da gasolina só no ano que vem.
Globo
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