Na primeira eleição sem Hugo Chávez, o protagonista absoluto da vida política da Venezuela nos últimos 14 anos, os eleitores vão às urnas no país hoje para escolher um novo presidente que comandará um governo acossado por fragilidades políticas e econômicas.
O mandatário interino Nicolás Maduro, 50, que Chávez apontou como herdeiro antes de morrer em março, é o favorito. Mas o cenário sem o esquerdista na cédula provoca incerteza.
Segundo a pesquisa do prestigiado Datanálisis, citada pela agência Reuters, a diferença entre Maduro e seu oponente Henrique Capriles, 40, vem caindo, mas ainda é de 7,2 pontos percentuais, com alto número de indecisos.
Se os números atuais se confirmarem, Maduro vencer pode se mostrar mais fácil do que administrar até 2019 uma economia com distorções, manter unidas as várias facções do chavismo -militares incluídos- e cumprir suas promessas ao eleitorado.
"O povo na Venezuela já despertou. Vou votar em Maduro, mas, se ele sair dos trilhos, para fora!", diz Milagros Chirinos, 36, funcionária de uma cafeteria estatal.
A mensagem de Milagros é comum no eleitorado chavista: votar para atender ao "último pedido" do presidente, mas advertir de que não é "cheque em branco", indicativo de que tenderão a ser mais exigentes com o novo líder.
Em 14 anos, Chávez se colou às conquistas do governo, como a distribuição da renda petroleira, mas não aos principais problemas, como a violência. Era o superpresidente que culpava auxiliares publicamente pelas falhas -percepção que se arraigou e ameaça se voltar contra o sucessor.
"No último período de Chávez, já havia muitos assuntos que se resolviam pelo seu carisma. Esse carisma Maduro terá que substituir por política", disse à Folha o sociólogo espanhol Juan Carlos Monedero, do Centro Internacional Miranda, de intelectuais ligados ao chavismo.
Para Monedero, porém, a necessidade de construir equilíbrios políticos não ameaça Maduro: "Aqui há um projeto de país, uma Constituição, uma nova cultura política".
Numa sinalização de que sabe que a evocação de Chávez não é suficiente, Maduro fez uma série de promessas concretas, como a de que será o "presidente da segurança" e combaterá a corrupção.
O ex-chanceler tem dado ênfase à "liderança coletiva" do governo, com civis e militares, num reconhecimento de que o modo de governar terá de passar por ajustes.
Por fim, no caso da vitória de Capriles, os próximos meses serão ainda mais complexos, com sua acomodação no poder em meio a embates com a Assembleia, a Justiça e a estatal petroleira PDVSA -todas dominadas por chavistas.
UOL
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