Formado em jornalismo e com mestrado em artes cênicas, o pernambucano George Moura é autor de dois dos melhores trabalhos exibidos pela Globo no intervalo de um ano, as minisséries “O Canto da Sereia” (2013) e “Amores Roubados” (2014). O sucesso desta última superou todas as expectativas. “É um sonho quando conseguimos, na TV aberta, a difícil equação entre a qualidade e a comunicação, a mais ampla possível”, diz Moura em entrevista ao UOL.
Na entrevista a seguir, Moura explica por que decidiu alterar o final do livro “A Emparedada da Rua Nova”, no qual se baseou para escrever “Amores Roubados”. A mudança provocou alguma polêmica entre os espectadores que acompanharam a série, cujo décimo e último capítulo foi exibido na noite de sexta-feira (17).
amoresroubadosirandhirMuitos espectadores ficaram frustrados com os finais em aberto dos personagens João (Irandhir Santos) e Carolina (Cassia Kiss). O que você pode dizer a respeito? O mais óbvio seria que o protagonista, Leandro, não morresse. Ele morre, ao tentar fugir de uma emboscada, no capítulo seis, portanto, na metade da minissérie. Mesmo assim, Leandro permanece vivo, seja na memória das mulheres apaixonadas por ele, seja na saga de vingança perpetrada por Jaime e João, que parece nunca chegar ao seu fim. Outro dado curioso é que na construção da narrativa, o antagonista de Leandro, Jaime, passa a ser o protagonista, a partir de um determinado ponto da história. Existe uma troca de posição. Leandro era movido pelo desejo e pela paixão. Jaime é movido pela vingança e pela danação.
amoresroubadoscassiakissSão formas de contar uma história, que fogem a uma narrativa mais previsível. Se ao final tivéssemos o desfecho de cada um dos personagens, talvez o telespectador veria exatamente o que ele esperava, mas é preciso surpreender. O telespectador toma um susto inicial, mas depois ele vibra e agradece de ver este frescor na trama. Decidimos juntos pelo final em aberto, é uma outra forma de narrar que pode fazer o telespectador imaginar o desenlace para João, Carolina, Oscar, Ana Clara… Acho que em “Amores Roubados'' isso foi mais rico. Não é uma fórmula, mas sim uma escolha para esta história específica.
Qual (ou quem) foi, para você, a maior surpresa em “Amores Roubados''? A maior surpresa foi o quanto a minissérie tocou fundo nas pessoas das mais diferentes latitudes. Foi uma paixão à primeira vista, que durou dez capítulos. É um sonho quando conseguimos, na TV aberta, a difícil equação entre a qualidade e a comunicação, a mais ampla possível. Vamos continuar trabalhando para perseguir esta meta.
ocantodasereiaNa comparação com “O Canto da Sereia'', como você avalia o resultado de “Amores Roubados''? O frisson causado por “Amores Roubados'', seja no público – ótimo resultado de Ibope – seja na crítica, foi ainda mais forte do que “O Canto da Sereia''. E olha que no “Sereia…'' já tínhamos chegado em ótimos patamares nesses dois aspectos. Em “Amores…'' existia uma expectativa, até certo ponto natural, se iríamos voltar a alcançar o grau de realização do trabalho anterior. Trabalhamos com aquela torcida e, ao mesmo tempo, com aquela dúvida: será que vamos conseguir chegar lá de novo?
Acredito que “Amores…'' foi um novo passo de realização de toda a equipe. Seja na complexidade, na sutileza e nas várias camadas da escrita do roteiro, na atuação dos atores, na direção do José Luiz Villamarim, na fotografia do Walter Carvalho, na geografia física escolhida, que foram as locações desse sertão contemporâneo, entre as vinícolas e o Raso da Catarina. Ou seja mostramos para o Brasil um nordeste que tem riqueza e adversidade. Tudo para contar da melhor maneira essa história.
amoresroubadossiabelleandroFoi muito mais difícil de realizar “Amores…''. O roteiro foi ainda mais trabalhado, o esforço de produção foi gigante. Para você ter uma ideia, foram do Rio de Janeiro para Petrolina e Paulo Afonso sete caminhões com figurino, arte, cenografia e maquinários. A equipe de “Amores…'' foi composta por cerca de 120 pessoas e rodou 250 mil quilômetros entre todas as locações, durante quase três meses vivendo no sertão nordestino.
Para mim, o resultado de “Amores…'' foi ainda mais preciso, de acordo com o nosso desejo apaixonado de fazer uma TV de qualidade e com frescor. É como se “Sereia…'' já trouxesse dentro de si, embora tratando de um universo tão diferente e com uma história tão diversa, a semente de “Amores…''
Qual é o seu próximo projeto de trabalho? É uma releitura da novela original “O Rebu”, de Bráulio Pedroso, para o horário das 23h. A direção é de José Luiz Villamarim, fotografia de Walter Carvalho e estou fazendo junto com o roteirista Sérgio Goldenberg, parceiro do “Sereia…'' e do “Amores…'' Já estamos trabalhando duro e torcendo para fazer algo digno da inteligência do telespectador.
UOL
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