Todas as câmeras de vigilância das mansões vizinhas funcionam perfeitamente quando Daniel*, no terceiro andar da casa onde mora com os pais no Jardim América, bairro nobre de São Paulo, apoia a sola do sapato sobre a cama king size, escala um armário e apanha do esconderijo a pistola automática austríaca Glock 17.9 milímetros, comprada por R$ 3 mil no mercado negro. Daniel empunha a arma com a mão direita, volta a sentar e diz, com vaidade: “Sempre deixo carregada”. Segundos depois, ele se levanta e se estica novamente para guardar a ferramenta que costuma servir mais para assustar clientes negligentes do que para cuspir balas. Aos 23 anos, três escolas particulares no currículo (entre elas o conceituado colégio italiano Dante Alighieri) e um curso de administração pela metade, o traficante está prestes a enfrentar 14 horas de estrada até a fronteira com o Paraguai, onde integrará uma reunião com dois fornecedores da maconha que compra todas as semanas. Em um carro popular – “É para não chamar atenção”, justifica –, Daniel pisa no acelerador até o ponteiro ultrapassar os 170 km/h. Ele tem pressa. O rugido do motor na noite vazia é interrompido para a compra de energéticos. Ao chegar a Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira, ele estaciona em uma churrascaria, cumprimenta os contrabandistas, senta-se à mesa e pede, além de uma Coca-Cola, uma amostra da erva. Caminha até o carro, enrola um cigarro, fuma. Ao voltar à negociação, ele recusa a oferta. Irritado por ter perdido tempo, Daniel explica àGQ – que o acompanhou na viagem – que a maconha não tem qualidade o bastante para a classe alta paulistana.
Daniel nasceu e foi criado em uma mansão de 23 cômodos e três empregados do Jardim América, que hoje também lhe serve de escritório para o tráfico. A adolescência foi marcada por episódios de indisciplina, como no dia em que furtou e capotou o carro do pai na Marginal Tietê. Aos 18 anos, começou a comprar maconha para vender nas imediações da universidade que frequentava no centro de São Paulo. Desde então, o jovem percorreu um caminho evolutivo no mundo do tráfico. Aprendeu que, para ganhar dinheiro, era preciso trabalhar com um produto de qualidade. Com alguma sorte, encontrou o caminho que leva à maconha pura. Um de seus fornecedores em São Paulo começou a lhe dever dinheiro, e sugeriu uma única forma de pagamento: apresentar o garoto rico aos contrabandistas que comercializavam grandes quantidades de maconha no Paraguai. Compensou.
Nos últimos meses de 2013, especialmente por conta das festas de fim de ano, Daniel lucrou R$ 150 mil por mês com a venda de maconha orgânica para a alta sociedade paulistana. Ele é um traficante de elite, um mordomo poderoso que controla a entrada de suprimentos em regiões nobres de São Paulo – especialmente os Jardins, onde nasceu. Vai pessoalmente às plantações, acompanha a produção da carga e paga R$ 1 mil a um “mula” que transporta a encomenda até São Paulo. Na capital paulista, Daniel tem distribuidores que repassam a erva aos consumidores finais – tem em sua lista filhas de empresários, netos de banqueiros, celebridades.
O negócio nunca esteve tão bom – apenas nos últimos meses, lucrou pelo menos R$ 500 mil. Seu plano é continuar no patamar em que sempre esteve durante a vida. Por isso não para com a atividade – que além de cédulas azuis lhe rende prestígio e um tanto da adrenalina em que é viciado. Ele planeja juntar pelo menos R$ 5 milhões, abandonar o tráfico e ir morar num lugar tranquilo. Até esse dia chegar, ele nem imagina o que o espera. “Posso ficar mais um mês ou mais dez anos nessa vida, nunca sei”, diz o traficante, que afirma pagar mensalidades a policiais corruptos (para não ser preso) e à facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC (para garantir segurança na cadeia caso seja preso).
Daniel nasceu e foi criado em uma mansão de 23 cômodos e três empregados do Jardim América, que hoje também lhe serve de escritório para o tráfico. A adolescência foi marcada por episódios de indisciplina, como no dia em que furtou e capotou o carro do pai na Marginal Tietê. Aos 18 anos, começou a comprar maconha para vender nas imediações da universidade que frequentava no centro de São Paulo. Desde então, o jovem percorreu um caminho evolutivo no mundo do tráfico. Aprendeu que, para ganhar dinheiro, era preciso trabalhar com um produto de qualidade. Com alguma sorte, encontrou o caminho que leva à maconha pura. Um de seus fornecedores em São Paulo começou a lhe dever dinheiro, e sugeriu uma única forma de pagamento: apresentar o garoto rico aos contrabandistas que comercializavam grandes quantidades de maconha no Paraguai. Compensou.
Nos últimos meses de 2013, especialmente por conta das festas de fim de ano, Daniel lucrou R$ 150 mil por mês com a venda de maconha orgânica para a alta sociedade paulistana. Ele é um traficante de elite, um mordomo poderoso que controla a entrada de suprimentos em regiões nobres de São Paulo – especialmente os Jardins, onde nasceu. Vai pessoalmente às plantações, acompanha a produção da carga e paga R$ 1 mil a um “mula” que transporta a encomenda até São Paulo. Na capital paulista, Daniel tem distribuidores que repassam a erva aos consumidores finais – tem em sua lista filhas de empresários, netos de banqueiros, celebridades.
O negócio nunca esteve tão bom – apenas nos últimos meses, lucrou pelo menos R$ 500 mil. Seu plano é continuar no patamar em que sempre esteve durante a vida. Por isso não para com a atividade – que além de cédulas azuis lhe rende prestígio e um tanto da adrenalina em que é viciado. Ele planeja juntar pelo menos R$ 5 milhões, abandonar o tráfico e ir morar num lugar tranquilo. Até esse dia chegar, ele nem imagina o que o espera. “Posso ficar mais um mês ou mais dez anos nessa vida, nunca sei”, diz o traficante, que afirma pagar mensalidades a policiais corruptos (para não ser preso) e à facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC (para garantir segurança na cadeia caso seja preso).
Em 2009, Daniel costumava desembolsar uma mensalidade de R$ 7 mil para agradar um delegado bem posicionado na hierarquia da Polícia de São Paulo. Também pagava taxas mensais a um gerente do PCC que, em troca, autorizava o jovem bem-nascido a vender maconha. Difícil evitar a facção. Segundo o promotor Alfonso Presti, que coordena a Central de Inquéritos Policiais e Processos (CIPP) do Ministério Público de São Paulo, mexer com drogas na capital paulista significa negociar com o PCC. “A totalidade da maconha e mais de 90% da cocaína em São Paulo têm contato com o PCC”, diz Presti.
GQ
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