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Victor Mateus

domingo, 8 de abril de 2012


Sem voos diretos, JP se isola do Nordeste


Sem voos diretos, JP se isola do NordesteOs paraibanos passam até 23 horas em voos e esperando em conexões nos aeroportos, além de gastarem quatro vezes mais em passagens para viajar de avião para Estados vizinhos. Os prejuízos e transtornos são causados pela falta de voos diretos de João Pessoa para outras capitais do Nordeste - existe apenas opção para Salvador. Com isso, para chegar a um Estado da própria região, muitos precisam ir para Brasília e até São Paulo, pagando passagens mais caras e arcando com outras despesas como alimentação e hospedagem acima do que é gasto, por exemplo, pelos que embarcam no aeroporto de Recife.

A reportagem realizou um levantamento comparativo nos preços das passagens - nos sites das companhias aéreas - com um mês de antecedência para viagem no início de maio e constatou o quanto os paraibanos pagam mais caro. De João Pessoa para Aracaju, o passageiro vai enfrentar oito horas de viagem, fazer conexões em Brasília e Salvador, gastando R$ 805 só na passagem de ida. Já embarcando em Recife, o menor custo disponível cai para R$ 165 e a viagem reduz mais da metade do tempo, sendo de três horas e 40 minutos.

Em uma das companhias aéreas, quem vai viajar de João Pessoa para Teresina pode gastar, apenas na passagem de ida, de R$ 381 a R$ 4.740, e passar até 15 horas e 50 minutos entre voos e espera nos aeroportos. Em uma das opções, o passageiro embarca às 1h45, faz uma conexão no Rio de Janeiro, volta ao Nordeste, desembarcando em Fortaleza para mais uma conexão, para só então seguir para o real escolhido.

Em outra companhia, na mesma data, só há opções de volta e com duração de nove horas e 35 minutos. Para chegar em João Pessoa, o passageiro terá que sair às 16h40, passar por Brasília e Salvador, e chegar às 2h15, pagando R$ 490 pela viagem. Já partindo de Recife, o passageiro paga a partir de R$ 342 e o tempo de viagem pode ser de menos de três horas, mas também há casos que passam de 11 horas.

Natal via São Paulo ou Rio

Para Natal, quem quiser ir de avião enfrentará não menos de oito horas de viagem, mas este tempo pode ser de quase um dia inteiro. Sem voos diretos, os passageiros precisam fazer uma conexão em Brasília, São Paulo ou Rio de Janeiro, passando 22 horas e cinquenta e cinco minutos para chegar no estado vizinho.

Para ir a Fortaleza, há passagens em que o paraibano terá que partir sempre na madrugada e passar até oito horas de 35 minutos para chegar. Uma das opções é sair às 4h40, fazendo uma escala em Salvador e Recife e só desembarcar no Ceará às 13h15. Os custos são de R$ 472. Já saindo de Recife, há opções de voo sem conexões nos três turnos e o tempo de viagem é de pouco mais de uma hora. Os custos também são menores, variando de R$ 269 a R$ 337.

De João Pessoa para Maceió, o passageiro tem que passar por Brasília e pagar 57% mais caro se saiss e de Recife. Reservando a passagem com um mês de antecedência, os custos de ida e volta, embarcando em João Pessoa são de, no mínimo R$ 749, com seis horas de viagem. De Recife, os custos caem para R$ 475, passando menos de uma hora para chegar ao destino.

Mercado não atrai empresas aéreas

As poucas opções de voos que partem de João Pessoa refletem o mercado ainda fraco da Paraíba em relação a outros estados. É o que acredita o superintendente da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) no Aeroporto Castro Pinto, Alexandre Oliveira. “Mercados fortes atraem mais voos. Mercados menos fortes atraem menos voos. Nenhuma empresa aérea, nos dias atuais, assume rotas não rentáveis”, afirmou.

Segundo ele, é preciso investir para desenvolver cada vez mais o mercado da Paraíba, para demonstrar às empresas que o Estado tem potencial e demanda que justifiquem a criação de novos voos. Alexandre disse que o processo não é rápido por causa da complexidade de interação entre os diversos atores envolvidos. Mesmo assim, ele defende que a situação está bem melhor e dá sinais claros de melhoria contínua. Para o presidente da Associação Brasileira de Agentes de Viagens na Paraíba (Abav-PB), Roberto Brunet, para as empresas criarem novos voos, é preciso ter demanda que justifique. No entanto, ele considera que a situação é bastante negativa e a demora nos voos desestimula o tráfego para a Paraíba, prejudicando o turismo.

“São destinos que poderíamos chegar em uma hora ou uma hora e meia se tivéssemos voos diretos. Estamos prejudicados neste sentido. O ideal seria pleitear novos voos para o turno diurno, porque na madrugada já estamos lotados e tem a capacidade da Infraero de ter novas rotas. Mas para a concessão tem que ver a atual necessidade porque para Recife e Natal, por exemplo, não há essa demanda porque as pessoas acham melhor ir de carro ou ônibus por causa da proximidade. Tem que ser locais que tenham um fluxo diário para ter ocupação”, afirmou.

Segundo Roberto Brunet, as empresas estão garantindo voos para locais de acordo com as vantagens do mercado. Por isso, disponibilizam aeronaves para as rotas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Ele destacou que o Estado tem que trabalhar para criar essa demanda e incentivar o mercado. “A partir do momento que a gente tiver o Centro de Convenções, realmente vamos precisar de novas rotas na malha aérea. São fatores como esses que são decisivos para mudar o quadro”, destacou o presidente da Abav-PB.

Rota direta apenas para Salvador

De acordo com o superintendente da Infraero na Paraíba, Alexandre Oliveira, existem 28 voos no Aeroporto Castro Pinto, sendo 14 idas e 14 voltas. No entanto, apenas uma opção de ida e volta tem ligação direta com uma capital do Nordeste, que é Salvador. Segundo ele, a partir do próximo dia 23 será disponibilizado um voo de ida e volta para Recife.

“De Recife e de Salvador, o nosso passageiro tem condição de fazer conexão para outras cidades do Nordeste. O tempo de voo Recife – João Pessoa é de aproximadamente 20 minutos. O tempo de voo Salvador – João Pessoa é de 1 hora e 30 minutos”, afirmou, acrescentando que as demais opções de voo da Paraíba para outras capitais da região são obtidas apenas com as empresas aéreas operadoras, já que são feitas através de conexão.

Em nota ao Correio, a TAM afirmou que estuda mudanças. “A TAM Linhas Aéreas informa que as rotas são sempre avaliadas conforme a demanda de cada cidade ou região. Analisamos atualmente uma conexão adicional com a capital paraibana, a ser implementada, dependentemente das aprovações governamentais. A companhia está sempre atenta às necessidades de seus clientes e constantemente inicia, amplia ou altera operações, tanto domésticas quanto internacionais; podendo rever seu posicionamento de malha aérea e readequá-lo de acordo com o cenário apresentado”.

Mesmo com a ligação direta com Salvador, o veterinário Heber Calais, que mora no Rio de Janeiro, disse que, com apenas uma opção de horário, às vezes as conexões são inevitáveis. “Já precisei viajar de João Pessoa para Salvador e não consegui. Pesquisei por outras capitais e a situação é ainda pior porque tem que ir para Brasília para depois ir para a cidade que eu quero. Só não tenho mais problemas porque viajo geralmente do Rio de Janeiro para cá para visitar meu filho que mora em Guarabira”, contou.

Demora em voos cria mais despesas

Os prejuízos causados pela ausência de voos diretos para as capitais do Nordeste vão além das passagens mais caras com o aumento do deslocamento em conexões. Como muitos passam horas em aeroportos, surgem mais despesas com alimentação e até a hospedagem é alterada.

“Faço viagens a trabalho e é muito cansativo. Viajo horas, não aproveito nem a diária no hotel direito e tenho que participar dos eventos e treinamento e voltar para João Pessoa rápido. Mas como passo muito tempo esperando conexão em aeroporto, acabo gastando mais com alimentação. A última vez que fui para Fortaleza, sai daqui às 3h da madrugada, fui para o Rio de Janeiro e só cheguei no destino mesmo às 11h”, disse a bancária Aline Araújo.

Ela contou que o banco a envia para eventos em outros Estados que ela prefere ir de ônibus. “Para Maceió mesmo é impossível porque não temos opções e de ônibus chega primeiro. Isso só dificulta as coisas e deixamos de viajar até mesmo a trabalho”, relatou.

Já o casal de aposentados de São Paulo, Maria Aparecida Galico e Gerson Galico, estava de malas prontas para voltar para São Paulo com uma boa impressão de tudo que encontraram em João Pessoa, menos do serviço de transporte aéreo. “Vocês estão no paraíso, mas muitas pessoas deixam de conhecer pela dificuldade em chegar. Às vezes os turistas vão para uma capital do Nordeste, mas ficam meio impossibilitados de pegar um voo para conhecer outra”, avaliou Maria Aparecida.

Inviável

Já o esposo de Maria Aparecida, Gerson Galico, relatou que já viajou com pessoas que precisam ir para outra capital na região, mas estavam indo primeiro para São Paulo. “Acho muito inviável ter que ir primeiro em outra região para voltar depois de horas. Daqui de João Pessoa fui para Natal de ônibus, mas quantos não vão para outras capitais e deixam de conhecer aqui por falta de transporte aéreo?”, questionou.

O médico Hélio Domingues relatou que já preferiu ir para Recife de carro e de lá embarcar para Salvador. “A gente acaba tendo mais despesas, mas é uma opção para demorar menos em escalas. Fui no meu carro e peguei na volta. E não é só o custo que incomoda, tem todo um desgaste. Para Fortaleza mesmo onde tenho família eu vou de carro porque não tem avião”, disse.

Operação de empresas menores

Para acabar com a dificuldade de viajar pela própria região Nordeste, uma saída seria a implantação de voos pelas companhias aéreas de menor porte, de acordo com a presidente da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur), Ruth Avelino. Segundo ela, o problema não é enfrentado apenas pelos paraibanos. “Esse problema de voos regionais é da maioria dos Estados do país. No Nordeste, só Recife e Salvador que não enfrentam isso. Durante alguns anos tínhamos voos no pinga-pinga, indo de um estado ao outro vizinho. Depois isso mudou e agora vai para São Paulo direto e de lá para o destino final. Com a duplicação das rodovias para Natal e Recife, não há esta necessidade de voos nessas rotas, mas para as outras capitais é preciso sim”, defendeu.

Ruth Avelino disse que a mudança desse quadro é uma luta de todo o Nordeste, mas que encontra dificuldades pela própria falta de interesse das grandes companhias. Ela informou que já houve tentativas de negociar com as empresas, mas não houve muito avanço e, por isso, a saída é negociar com as menores.

“Essas empresas menores poderiam fazer essas linhas regionais porque o objetivo é ampliar a malha regional. Mas isso tem que negociar e também gerar demanda. É uma luta constante, inclusive, do fórum de secretários de turismo e presidentes de órgãos da área. Apresentamos dados mostrando que temos demanda, mas ainda há resistência. Ano passado, nosso maior fluxo de pessoas foi de São Paulo, Pernambuco, Distrito Federal e Rio Grande do Norte. As empresas ficam receosas porque parte disso é um fluxo feito através de carros”, explicou.

A presidente da PBTur esclareceu que está em negociações com a TRIP, que já está trabalhando em Natal. Ela lembrou que a Noar já realizou alguns desses voos regionais, mas parou de operar após o acidente em Recife, que vitimou 16 pessoas. Ela disse que espera que a empresa se reestruture e volte a atuar na região.

“O trabalho tem que ser integrado, não pode ser apenas de um estado. Não podemos garantir demanda para uma viagem de ida e a volta não tem ninguém. Tem que ter uma boa ocupação nos dois voos. Também estamos em conversas com a Azul e Avianca, que fazem voos sempre puxando para São Paulo. Algumas empresas reclamam do imposto do querosene e estamos buscando a isenção fiscal para incentivar. Além disso, já temos um ICMS reduzido, que também é um atrativo”, afirmou Ruth Avelino.

Tráfego aéreo emperra o crescimento

A dificuldade de tráfego aéreo emperra o crescimento do turismo na Paraíba e o Estado acaba perdendo visitantes para Pernambuco. É o que alerta o gerente executivo do Convention Bureau de João Pessoa, Ferdinando Lucena. Ele disse que muitos eventos que são planejados para a cidade são inviabilizados por causa dos problemas na malha aérea.

“Muitas pessoas vão viajar e, ao invés de embarcar aqui, vão para Recife e partem de lá. Vejo isso com preocupação porque João Pessoa é uma capital que está despontando no turismo de sol e mar e também de eventos. Mas o que acontece é que geralmente há dificuldade grande no tráfego”, afirmou Ferdinando Lucena disse ainda, que os eventos que deveriam ocorrer aqui “são inviabilizados porque quem mora no Piauí, Maceió e São Luiz, por exemplo, não vão conseguir chegar a tempo por causa dos horários ou se desestimulam e desistem”, avaliou.

De acordo com Ferdinando Lucena, a repercussão de muitos turistas é de que conhecer João Pessoa supera as expectativas, mas que o deslocamento é muito complexo porque passam horas em aeroportos. Além disso, ele apontou que muitos pagam diárias e utilizam pouco por causa dos horários dos voos.

“Acredito que o trabalho em conjunto com a Infraero e governo para atração de novos eventos vai resultar em melhorias na malha aérea. Não há dúvidas de que está havendo um esforço concentrado para o fomento do turismo e agora é preciso potencializar essas demandas e oferecer voos que possam atender as pessoas que precisam se locomover regionalmente. A malha está sendo estudada para modificar para acompanhar as mudanças no fluxo”, analisou.

Desenvolvimento

O gerente executivo do Convention Bureau acredita que a problemática será superada diante do avanço do desenvolvimento do turismo. Ele destacou a importância da construção do Centro de Convenções para mudar o quadro, já que será um incentivo para o turismo de eventos.

“A malha aérea tem que ser estudada direitinho porque ninguém vai investir para perder dinheiro. Mas temos que reconhecer que já melhorou bastante”, afirmou Ferdinando Lucena.


Correio

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