Foi prorrogada por 30 dias a prisão temporária dos dois sócios da boate Kiss e de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira. A boate foi atingido por um incêndio, no último domingo (27), que deixou 236 mortos. O pedido da Polícia Civil foi aceito pela Justiça do Rio Grande do Sul na manhã desta sexta-feira (1º). Os quatro suspeitos ficarão detidos por mais um mês para não prejudicar o andamento das investigações.
Segundo o Ministério Público, a polícia diz que a manutenção da prisão é necessária porque há possibilidade de fuga caso eles sejam soltos nesta sexta, data em que se encerraria a prisão temporária de cinco dias expedidas pelo Judiciário.
Parecer do Ministério Público
Investigações iniciais "indicam a presença do dolo na conduta dos representados, evidenciando a prática de homicídio doloso, portanto, tendo os representados assumido o risco de produzir o resultado morte de mais de duzentas pessoas, por meio de asfixia"
Já a Promotoria afirma que as investigações iniciais "indicam a presença do dolo na conduta dos representados, evidenciando a prática de homicídio doloso, portanto, tendo os representados assumido o risco de produzir o resultado morte de mais de duzentas pessoas, por meio de asfixia". Dolo é o crime cometido com intenção.
Já os integrantes da Banda Gurizada Fandangueira, "com suas condutas, teriam concorrido para a prática do ilícito", diz o MP. Isso porque o produtor da banda "adquiria os artefatos pirotécnicos, com ciência de que não poderiam ser utilizados em ambiente fechado", "parecendo desimportar-se com o resultado de sua conduta, apenas visando ao lucro".
O vocalista da banda, "teria ciência de tal fato e, mesmo assim, utilizava os artefatos, sendo que há notícia, inclusive, de que chegou a encostar no teto da boate tal artefato". "Da mesma forma, estando com o microfone na mão, não foi capaz de alertar as pessoas acerca da existência de fogo no ambiente", alega o Ministério Público.
Depoimentos
O sócio da Boate Kiss, o vocalista e o produtor da banda Gurizada Fandangueira deram versões contraditórias nos depoimentos à polícia sobre o incêndio. O Jornal Nacional teve acesso ao depoimento das testemunhas.
Já prestaram depoimento à polícia jovens que estavam no local no momento do incêndio, músicos e sócios da boate, entre eles Elissandro Spohr, conhecido como Kiko, que foi ouvido no domingo (27). Ele afirmou que a banda tocava na boate uma vez por mês, mas nunca tinha feito esse show pirotécnico e nunca havia pedido consentimento para que se fizesse esse tipo de apresentação.
Ainda de acordo com o depoimento de Spohr, o teto da boate seria de gesso, com uma camada de lã de vidro acima. No palco, havia uma primeira camada de esponja para isolamento acústico.
O advogado Jader Marques, que defende Spohr, afirmou que não tinha certeza sobre o uso de espuma. "Pode sim ter acontecido que o Kiko, com orientação desse engenheiro, ter adicionado elementos como espuma, parede, madeira, gesso em outros locais fora do projeto do Ministério Público e sem o conhecimento do Ministério Público. Pode isso ter acontecido? Sim, pode, pode ter acontecido."
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, deixou 235 mortos na madrugada do último domingo (27). O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco. De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento por investigadores, é possível afirmar que:
- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso.
- Era comum a utilização de fogos pelo grupo.
- A banda comprou um sinalizador proibido.
- O extintor de incêndio não funcionou.
- Havia mais público do que a capacidade.
- A boate tinha apenas um acesso para a rua.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido.
- Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros.
- 90% das vítimas fatais tiveram asfixia mecânica.
- Equipamentos de gravação estavam no conserto.
G1
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