“Não seria este o desfecho da vida pública que eu havia planejado, mas não vou expor a instituição mais do que já se encontra exposta por esse episódio”, diz Henry na carta.
O documento foi entregue na Secretaria-Geral da Mesa da Câmara às 12h35m. Por não haver mais sessão da Câmara hoje, só será lido em plenário na sessão de segunda-feira, com publicação no “Diário Oficial” de terça.
Pedro Henry destaca que tentou argumentar sua inocência, mas “o entendimento equivocado dos ministros” extraíram trechos incompletos de depoimentos que levariam a conclusões diferentes.
O ex-parlamentar disse também que o sentimento é de “dever cumprido” para com os matogrossenses, estado pelo qual se elegeu. “A sociedade daquele estado sabe dos benefícios que consegui arrastar para alavancar o seu desenvolvimento”, afirmou . Ele também lembrou que o DIAP inúmeras vezes o listou como um dos parlamentares mais influentes do Congresso.
“Não fugi, não me escondi e nem renunciei, pelo contrário colaborei e esclareci todas e quaisquer duvidas, abri meus sigilos fiscais e bancários, expus todas as minhas particularidades”.
Segundo a assessoria técnica da Câmara, a renúncia já está valendo. Além disso, a Casa foi informada por volta das 9h50m da decisão do presidente do STF, Joaquim Barbosa, de expedir o mandado de prisão do parlamentar.
O advogado de Henry, José Antonio Duarte Alvares, disse que pedirá a transferência do ex-deputado para Cuiabá, em Mato Grosso, e solicitará também autorização para que Henry trabalhe. O deputado, que renunciou ao mandato na Câmara nesta sexta-feira, antes de se entregar na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, é médico anestesiologista e perito legal.
- Ele é médico, tem três especialidades, acho que não vai ser difícil ele conseguir uma proposta - disse o advogado. - A intenção é ser transferido para Cuiabá e, depois, ele começar a trabalhar.
Duarte Alvares contou que Henry chegou à superintendência da PF num carro Toyota Corolla, com motorista, por volta do meio-dia. Segundo o advogado, Henry já fez o exame de corpo de delito na própria superintendência, no meio da tarde de hoje foi transferido para o Centro de Internato e Reeducação (CIR), na Papuda. A expectativa do advogado é que seu cliente fique detido na mesma cela onde já estão outros condenados do processo do mensalão, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
O advogado disse que Henry já aguarda a ordem de prisão e que ficou sabendo pela imprensa da determinação de Barbosa, nesta sexta-feira. Segundo ele, quando Henry chegou à PF o mandado de prisão ainda não estava com o delegado responsável pelo caso. Em seguida, o delegado recebeu uma cópia do mandado por e-mail. Mas, segundo o advogado, a cópia tinha trechos ilegíveis.
- As coisas estão se adequando. Existe um sentimento, neste processo em particular, que é a falta de conhecimento dos processos de execução por parte do STF. Então, o STF está agora aprendendo a fazer as execuções. Então, agora as coisas estão bem adequadas, a questão do regime de visitas, do regime semiaberto, as coisas vão se adequando devagarinho.
Indagado sobre o estado de espírito de seu cliente, o advogado respondeu:
- Ele está sereno.
Duarte Alvares disse ainda que aguarda a formalização do processo de execução penal para pedir a remoção para Cuiabá, onde vive a família de Henry. Depois disso, ele fará a solicitação de trabalho, provavelmente na área da saúde, uma vez que Henry é médico e tem três especialidades.
O advogado afirmou também que o estado de saúde de seu cliente é bom, já que as doenças de que sofre - hipertensão e diabete - estão controladas e não impedem o cumprimento da pena no regime semiaberto.
- Nada que impeça o cumprimento normal (da pena). A hepatite dele é controlada, a hipertensão é controlada, o diabetes é controlado. É só questão medicamentosa mesmo. Ele está muito bem de saúde.
O advogado falou aos jornalistas na saída da Superintendência da PF em Brasília, por volta das 14h30. Segundo ele, seu cliente estava na sala do delegado encarregado do caso, aguardando a transferência para o CIR da Papuda.
A ordem de prisão saiu um dia depois de o STF ter decretado o trânsito em julgado das condenações de Henry e de Rogério Tolentino, ex-advogado de Marcos Valério, o que significa que eles não podem mais recorrer da decisão. Condenado a seis anos e dois meses de prisão por corrupção ativa e lavagem de dinheiro, também em regime semiaberto, Tolentino foi preso ontem mesmo, e se entregou à Superintendência da Polícia Federal em Belo Horizonte. A multa dele ficou em R$ 494 mil, valor que também será corrigido.
A Polícia Federal informou nesta sexta-feira que o advogado Rogério Tolentino não será transferido para Brasília. "Houve autorização do STF para que ele fosse apresentado ao juiz da Vara de Execuções Penais de BH", comunicou a PF no Twitter.
Henry entrara com embargos infringentes para contestar as condenações e as penas impostas pelo tribunal. Mas o procurador-geral, Rodrigo Janot, afirmou que o réu não tem direito ao recurso. Isso porque, segundo o Regimento Interno do STF, para propor infringentes, o condenado precisa ter obtido ao menos quatro votos favoráveis no julgamento. Henry contabilizou apenas três. Como não há outro recurso possível à condenação, Janot recomendou a prisão do parlamentar.
Até agora, 15 na cadeia
O julgamento do mensalão resultou na condenação de 25 pessoas. Até agora, já foram para a cadeia 15. Estão presos em regime semiaberto, além de Tolentino: o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu; o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares; ex-tesoureiro do PL (atual PR) Jacinto Lamas; e os ex-deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP), Pedro Corrêa (PP-PE), Romeu Queiroz (PTB-MG) e Bispo Rodrigues (PL-RJ). No regime fechado estão: o operador do mensalão Marcos Valério, seus ex-sócios Cristiano Paz e Ramon Hollerbach e sua antiga funcionária Simone Vasconcelos; e os ex-executivos do Banco Rural Kátia Rabello, José Roberto Salgado e Vinicius Samarane.
O ex-presidente do PT José Genoino chegou a ir para a cadeia, mas atualmente está em prisão domiciliar. O ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato teve a prisão decretada, mas está foragido. Já foi ordenada também a execução das penas alternativas do ex-deputado José Borba (PMDB-PR), do ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri e do doleiro Enivaldo Quadrado. O ex-deputado Roberto Jefferson passou por exame médico e caberá ao presidente do STF e relator do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, decidir se ele vai para a cadeia ou se cumprirá a pena em prisão domiciliar.
Outros três réus — o deputado e ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), o ex-assessor parlamentar do PP João Cláudio Genu e o doleiro Breno Fischberg — ainda não tiveram o trânsito em julgado.
O Globo
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