Cícero: ‘bem avaliado’ por Fernando Henrique Cardoso
Ao nomear Cícero para a secretaria, que tinha status de ministério, sem as prerrogativas deste, recomendou-lhe que o importante era coordenar políticas e não simplesmente fazer nomeações. “A nomeação de políticos e de pessoas por eles indicadas para realizar uma política é um processo normal nas democracias. O que não é normal nem aceitável é o clientelismo e sua “versão moderna”, o aparelhamento partidário”, narrou. O ex-presidente alude ao que chamou de poderoso instrumento de pressão dos parlamentares: a força do voto para aprovar legislação em geral e o Orçamento em especial. Esse instrumento foi reforçado pela faculdade de senadores e deputados apresentarem emendas ao Orçamento, garantida pela Constituição de 1988. “Iniciado meu governo, o leito preferencial para as chamadas “emendas paroquiais” dos parlamentares, destinando dinheiro a pequenas obras ou serviços em seus redutos eleitorais, foi, aos poucos, sendo a Secretaria de Políticas Regionais. O ministro Cícero Lucena administrava adequadamente esse difícil dia a dia, mas afastou-se para concorrer à prefeitura de João Pessoa. Em junho de 1996, nomeei para seu lugar o correligionário Fernando Catão, ex-secretário de Planejamento do próprio Lucena no governo da Paraíba, que ficou até quase o final do primeiro mandato”, contou Fernando Henrique, arrematando que no início do segundo mandato convenceu o senador Fernando Bezerra (RN) a assumir a Pasta, dando-lhe o status de ministério autônomo, com o propósito de ser encarregado da Integração Nacional, ficando a ele subordinadas as agências de desenvolvimento regional. Apesar dos esforços de Bezerra para reformar a Sudene e Sudam e cuidar da transposição das águas do rio São Francisco, “o assédio dos parlamentares com suas emendas reduziu muito o alcance de ação do ministério”.
Fernando Henrique menciona outro episódio envolvendo um paraibano ilustre, o falecido senador Humberto Lucena. Considera um grande desafio ter sancionado a anistia votada pelo Congresso para anular decisão da Justiça Eleitoral que cassara o mandato de Humberto, acusado de mandar imprimir na gráfica do Senado calendários de Boas Festas com seu nome e fotografia. Salienta que isto era prática comum, embora ele, como parlamentar, não tivesse usado do expediente, e observa que poderia vetar a Lei ou lavar as mãos, deixando que o Congresso resolvesse a questão. Intimamente, estava convencido de que a decisão da Justiça Eleitoral abrigava ânimos da política local, e entendeu que não deveria punir apenas um parlamentar, porque seria discriminatório. Sancionou, então, a Lei da anistia que assegurou a elegibilidade de Humberto, mesmo enfretando insinuações de que haveria aderido ao clientelismo político.
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